quinta-feira, 29 de março de 2012

Fé Cristã

FÉ CRISTÃ
Tendo Jesus voltado no barco, para o outro lado, afluiu para ele grande multidão; e ele estava junto do mar. Eis que se chegou a ele um dos principais da sinagoga, chamado Jairo, e, vendo-o, prostrou-se a seus pés e insistentemente lhe suplicou: Minha filhinha está à morte; vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá. Jesus foi com ele.
Grande multidão o seguia, comprimindo-o.

Aconteceu que certa mulher, que, havia doze anos, vinha sofrendo de uma hemorragia e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior, tendo ouvido a fama de Jesus, vindo por trás dele, por entre a multidão, tocou-lhe a veste. Porque dizia: Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada. E logo se lhe estancou a hemorragia, e sentiu no corpo estar curada do seu flagelo. Jesus, reconhecendo imediatamente que dele saíra poder, virando-se no meio da multidão, perguntou: Quem me tocou nas vestes? Responderam-lhe seus discípulos: Vês que a multidão te aperta e dizes: Quem me tocou? Ele, porém, olhava ao redor para ver quem fizera isto. Então, a mulher, atemorizada e tremendo, cônscia do que nela se operara, veio, prostrou-se diante dele e declarou-lhe toda a verdade. E ele lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.(Marcos 5:21-34)
Neste relato bíblico, encontramos uma mulher que jamais seria lembrada não fosse o fato de seu caminho cruzar com alguém que jamais seria esquecido – Jesus. O ponto chave não é quem ela era – mas, sim por que veio. Marcos 3:10, nos faz entender que: “Ela havia ouvido de Jesus e de seus feitos.” Desesperada, a mulher colocou toda a sua esperança em Jesus e ficou determinada a ir até ele. Veja os obstáculos que eram necessários passar, antes de chegar à sua destinação.
1º Obstáculo - O passado
O tempo em si era um grande peso para ela. As recordações ameaçaram apagar a esperança. Durante doze anos de amarguras ela sofrera frustrações e falhas. Um tempo tão comprido quanto o da filha de Jairo, a quem Jesus fez viver – “Tomando-a pela mão, disse: Talitá cumi, que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta-te! Imediatamente, a menina se levantou e pôs-se a andar; pois tinha doze anos”. – (Marcos 5:41-42). A pequena menina de doze anos ficou doente na passagem de moça para mulher, enquanto esta senhora tinha sofrido um declínio constante nos seus poderes femininos até quase não ter mais forças. Doze anos de desapontamento constante é suficiente para enterrar o maior otimismo embaixo do desespero!
Nem os médicos dos seus dias podiam ajudar “... e muito padecera à mão de vários médicos, tendo despendido tudo quanto possuía, sem, contudo, nada aproveitar, antes, pelo contrário, indo a pior... (Marcos 5:26)”. Talvez ela tenha tentado até o Talmude judaico. Quem sabe um remédio típico que incluía que alguém segurasse um copo de vinho na mão direita, enquanto outro a dava um susto por trás. Sem ajuda perante essas superstições, ela convivera com dobro do sofrimento, da doença e dos tratamentos, perdendo tanto a saúde quanto dinheiro, enquanto progressivamente piorava. Observe que o narrador do texto bíblico coloca sua situação em apenas uma fase: ela havia “gasto tudo” (Marcos 5:26), e não conseguiu nada.
2º Obstáculo - O problema
A natureza da sua doença apresentava um problema delicado. Marcos descreve como uma “hemorragia” (versículo 25), uma perigosa, incontrolável hemorragia causada por algum tumor interno. Por causa das leis rígidas dos judeus em relação ao sangue, a mulher era vítima de preconceitos religiosos e sociais; veja o que diz em Levítico 15:25-27 Também a mulher, quando manar fluxo do seu sangue, por muitos dias fora do tempo da sua menstruação ou quando tiver fluxo do sangue por mais tempo do que o costumado, todos os dias do fluxo será imunda, como nos dias da sua menstruação. Toda cama sobre que se deitar durante os dias do seu fluxo ser-lhe-á como a cama da sua menstruação; e toda coisa sobre que se assentar será imunda, conforme a impureza da sua menstruação. Quem tocar estas será imundo; portanto, lavará as suas vestes, banhar-se-á em água e será imundo ate à tarde. Já pensou que grande problema? Tudo que ela tocava era considerado contaminado; consequentemente aqueles que a tocavam estavam impuros para os cerimoniais.
Aqui estava um grande dilema: como poderia procurar a cura? De um lado, não tinha coragem de pedir a Jesus que a tocasse, pois assim ele estaria publicamente impuro. Na realidade não poderia falar sobre doença em público! Por outro lado não tinha coragem de tocá-lo; seria um insulto imperdoável para com o Rabi! De algum modo, tanto a sua condição e a cura precisavam ser escondidas. Assim a estratégia tomou a sua forma: ela roubaria uma cura secreta! Inspirada pela culpa de sofrer em silêncio, conseguiria uma maneira de alcançar o milagre para que ninguém percebesse, nem mesmo Jesus.
3º Obstáculo - As pessoas
Sem medo, ela entrou na multidão ao redor de Jesus (versículo 27). Ela não sabia quando uma imensa dor a atingiria e ela ficaria debruçada sem nenhum lugar para se esconder. Vermelha de vergonha teria que agüentar os olhares dos homens. Mas não havia alternativa. Deve ter pensado ela: é agora ou nunca! Então, entrou na multidão, olhando fixo em Jesus à frente.
4º Obstáculo - As prioridades
Chegando ao meio da multidão, ela não podia deixar de ouvir as histórias da pressa para salvar a filha de Jairo, que estava entre a vida e a morte. Como poderia interromper uma preocupação tão desesperadora do cidadão mais importante da comunidade? Tendo suportado seu problema por doze anos ela não poderia esperar mais alguns dias? Mas a resposta parecia estar muito perto, e poderia ser sua única chance. De alguma maneira, ela poderia achar alívio, sem perturbar o clamor de Jairo. Mas como poderia ser feito?
A cura
Seus olhos avistaram a capa de oração sobre o ombro esquerdo de Jesus. Em todas as quatro pontas do manto havia um enfeite, três fios branco de lã amarrados com um fio azul, lembranças dos mandamentos divinos para a vida diária, conforme está escrito em Números 15:37-39. Como era atraente aquele enfeite perante os seus olhos! Se ela simplesmente pudesse tocar nos fios “da bainha do manto”, já seria o suficiente para ganhar acesso a seu poder! Ninguém precisava saber, e não levaria nem um instante!
Os discípulos estavam em volta de Jesus, buscando cuidadosamente proteger seu Mestre da multidão. Num instante, seus dedos tocaram a bainha. Num instante, todos os seus desejos estavam realizados, e ela regrediu à multidão! Mas com uma diferença! Naquele instante, ela teve a convicção de que havia recebido a sua cura permanente. Sua dor deveria ser realmente constante, caso contrário, ela não saberia imediatamente que tinha desaparecido. A cura era completa: não somente o fluxo, mas a fonte havia secado. Finalmente, um fim da humilhação, despesa, e esperança frustrada. A alegria marcou seu rosto quando ela virou para correr para casa.
Mas, assim que um problema desapareceu do seu caminho, outro surgiu. Pois Jesus virou para a multidão com uma pergunta: ...Quem me tocou as vestes?” (versículo 30). Tão preocupado ficara com a filha de Jairo, que somente agora percebera que poder havia saído dele. Não querendo deixar que alguém pensasse que suas vestes eram mágicas, Jesus procurou colocar seu poder no contexto de um relacionamento pessoal.
Como frequentemente acontecia, os discípulos não entenderam. Com exasperação mostraram a Jesus que a multidão o apertava de todos os lados. Lembramos os personagens famosos de hoje em dia, que, apesar da proteção máxima da polícia, rapidamente se vêem envolvidos pela multidão. Que diferença podia fazer um toque no meio de tantos, perguntaram os discípulos.
Mas Jesus sabia melhor. Há uma diferença notável entre o aperto normal de uma multidão e um toque proposital de fé. Então seu olhar passou no rosto de todos, buscando motivos escondidos de cada um. A mulher não podia suportar aquele olhar. Caindo aos seus pés, contou toda a história. Então, naquele momento terrível em que parecia que tudo podia ser perdido, ela escutou estas palavras de alegria: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz e fica livre do teu mal.” Versículo 34.
Agora, ela sempre lembraria que sua cura dependeu daquele ato de fé pessoal, e não das vestes. Livre da superstição pela confissão que a relacionou com Cristo, sua cura era completa. Com o corpo curado, e paz no coração, ela se despediu para testemunhar: “Eu o toquei, e vivo!”
A graça de Cristo
Não há nenhuma tentativa aqui de esconder as imperfeições daquela mulher. Ela conhecia Jesus apenas por contos, “os comentários do evangelho” nas praças. Sua idéia era que suas vestes estavam cheias de magia primitiva. O método que ela empregou para ter o seu poder era mecânico e impessoal. Sua motivação em buscar uma bênção secreta era misturada com orgulho e superstição. Não há dúvida de que sua fé era falha. O quê então dava significância a isto, perante os olhos daquele que percebia tão rapidamente a superficialidade, até por parte dos líderes religiosos? Não era sua determinação – desesperada – que motivou tal atitude de Jesus? É certo que ela não o buscava primeiro, mas por último. Ele não era seu piloto para a vida, mas agora ela o buscava numa situação de naufrágio. Foi levado pelo abandono que conquistou todas as dificuldades e a chegou até Jesus!
Não é esta uma verdade que precisamos recuperar em nossos dias? Jesus tinha uma bem aventurança para aqueles sem espiritualidade. Ele disse: Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos.” (Mateus 5:6). Este é um quadro vivo do desejo intenso, porque sabemos que os famintos e os sedentos se arrastam de joelhos para obter água ou comida. E isto não me refiro somente ao nosso país, e sim ao mundo inteiro, de acordo com os belíssimos trabalhos de reportagens que podemos ouvir nas rádios, ouvir e assistir nas emissoras de televisão e em vários outros canais de comunicação. Belíssimos, pelo trabalho; tristes, pela situação de cada pessoa, grupo ou nação.
Se a fome física de uma pessoa, grupo ou nação, pode nos tocar o coração, certamente que a fome espiritual dos filhos de Deus o comove muito mais.
Apesar de desejar que fosse diferente, este desejo é despertado como uma última alternativa. Tentamos uma dúzia de remédios, enquanto a nossa situação espiritual vai de mal a pior. Finalmente, tendo gasto as nossas devoções em mestres sem valor, pensamos em olhar para Cristo. É nada menos que um milagre da graça quando ele nos aceita, quando vimos a ele por último em vez de primeiro, quando gastamos tudo em vão e estamos desesperados porque podemos morrer, quando os nossos métodos não são eficazes.
A boa vontade de Cristo em nos honrar com a redenção não merecida realça o fato que a redenção não é baseada na maneira como vimos, mas a quem vimos. Não são nossas qualificações, mas a sua misericórdia e poder, que determinam a certeza de transformação. Se esperássemos que todos os nossos motivos e métodos fossem puros, nunca daríamos o primeiro passo! Aqueles que demoram, até que merecem entenderem o sentido radical da graça. Da mesma forma que um paciente procura um médico e se submete a um tratamento de que pouco entende, um pecador corre para o Salvador para uma cura que não é merecida e nem entendida.
Assim sendo, esta história se torna um exemplo para nossa caminhada espiritual e para a caminhada que guiará outros à salvação. Quantos obstáculos enfrentaremos, para encontrar a Cristo! Nosso orgulho e auto-suficiência abafam o nosso reconhecimento que estamos espiritualmente falidos. Muitas vezes, entramos numa igreja, para descobrir que ali é o pior lugar para confessar os nossos pecados. Se mostrarmos uma fraqueza, ou um momento de dúvida, quase ouvimos um suspiro audível. Por causa de um passado sem questionamento, a congregação fica envergonhada com a nossa presença. Mas durante este tempo escutamos falar de Jesus e queremos entregar tudo a ele como um último refúgio. Mas estamos sempre à beira da multidão, com discípulos ocupados com pessoas mais importantes. Como podemos vir, senão com forte disposição e quebrando todos os obstáculos? Nunca é fácil vir a Cristo, ou saber o que acontecerá quando tocamos suas vestes. O destemor precisa superar a hesitação, senão, continuaremos presos ao medo para sempre.
Toda vida cristã é assim. A Bíblia é um livro difícil. Seus segredos mais profundos são dificilmente alcançados. A oração é mais do que petições em horas apropriadas. Até que oramos sem cessar, porém não provamos a profundeza de um diálogo com Deus. Em qualquer desafio espiritual, precisamos lutar como Jacó, em Jaboque, quando ele chamou a divina presença assim: “Não te deixarei ir se me não abençoares.” (Gênesis 32:26). O evangelismo somente será eficaz quando testemunharmos a outros com esta urgência.
Então, para alguns que tentaram uma experiência cristã em vão, a simples pergunta a ser formulada é: “Com que força você tentou?” Isso não é uma chamada a ativismo nem ao apego às obras do evangelho. Mas, é uma resposta aos imperativos de Jesus, de pedir, buscar e bater. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei, e abrir-se-vos-á.” (Mateus 7:7). É um apelo para definir a fé, não como uma proposição religiosa, mas como uma preocupação primária.

Nenhum comentário:

Postar um comentário