sábado, 9 de junho de 2012

O SERMÃO DA MONTANHA

O SERMÃO DA MONTANHA
Antes de iniciar a sua vida pública, fez Jesus 40 dias de silêncio e meditação no deserto.
E a primeira mensagem que, logo no princípio, dirigiu à multidão é o chamado "Sermão da Montanha".
Estas palavras podem ser consideradas como a "plataforma do Reino de Deus", como diríamos na linguagem de hoje. Representam o programa da mística divina e da ética humana, visando a total autorrealização do homem.

Logo de início, vêm as bem aventuranças, onde Jesus proclama felizes precisamente aqueles que o mundo considera infelizes: os pobres, os puros, os mansos, os sofredores, os perseguidos, etc. Esta distinção entre felicidade e gozo, entre infelicidade e sofrimento vai através de todo o Evangelho do Cristo, e só pode ser compreendida por aqueles que despertaram para a Realidade do seu Eu espiritual.
O Sermão da Montanha representa o mais violento contraste entre os padrões do homem profano e o ideal do homem iniciado. Para compreender tão excelsa sabedoria deve o homem ultrapassar os ditames do seu intelecto analítico e abrir a alma para uma experiência intuitiva. O homem profano acha absurdo amar os que nos odeiam, fazer bem aos nossos malfeitores, ceder a túnica à quem nos roubou a capa, sofrer mais uma injustiça em vez de revidar a que já recebeu - e da perspectiva do homem mental tem ele razão. Mas a mensagem do Mestre é um convite para o homem se transmentalizar e entrar numa nova dimensão de consciência, inédita e inaudita, paradoxalmente grandiosa.
Não adianta analisar esse documento máximo da experiência crística. Só o compreende quem o viveu e vivenciou.
E, para preludiar o advento do reino de Deus sobre a face da terra, é necessário que cada homem individual realize dentro de si mesmo esse reino; que reserve cada dia, de manhã cedo, meia hora para se interiorizar totalmente no seu Eu Divino, no seu Cristo Interno, pela chamada meditação.
Durante a meditação, o homem se esvazia de todos os conteúdos de seu ego humano sem nada sentir, nada pensar, nada querer, expondo-se incondicionalmente à invasão da plenitude divina.
Onde há uma vacuidade acontece uma plenitude. O homem vazio de si é plenificado por Deus.
Mas, não se iluda! Quem vive plenificado pelas coisas do ego - ganâncias, egoismos, luxurias, divertimentos profanos - não pode esvaziar-se desegoficar-se, em meia hora de meditação; esse se ilude e mistifica a si mesmo por um misticismo estéril. É indispensável que o homem que queira fazer uma meditação fecunda e eficiente, viva habitualmente desapegado das coisas supérfluas e se sirva somente das coisas necessárias para uma vida decentemente humana. Luxo e luxúria são lixo e tornam impossível uma vida em harmonia com o espírito do Cristo e do Evangelho.
O homem que queira ser crístico, não apenas cristão, necessita de viver uma vida 100% sincera consigo mesmo, e não se iludir com paliativos e camuflagens que lhe encubram a verdade sobre si mesmo.
O SERMÃO DA MONTANHA - BASE DA HARMONIA ESPIRITUAL
Há séculos que as igrejas cristãs do Ocidente se acham divididas em partidos, e, não raro, se digladiam ferozmente - por causa de quê?
Por causa de determinados dogmas que elas identificam com a doutrina de Jesus - infalibilidade pontifícia, batismo, confissão, eucaristia, pecado original, redenção pelo sangue de Jesus, unicidade e infalibilidade da Bíblia, etc.
No entanto, seria possível evitar todas essas polêmicas e controvérsias - bastaria que todos os setores do Cristianismo fizessem do Sermão da Montanha o seu credo único e universal. Essa mensagem suprema do Cristo não contém uma só palavra de colorido dogmático-teológico - o Sermão da Montanha é integralmente espiritual, cósmico, ou melhor, "místico-ético"; não uma teoria que o homem deva "crer", mas uma realidade que ele deve "ser". E neste plano não há dissidentes nem hereges. A mística é o "primeiro e maior de todos os mandamentos", o amor de Deus; a ética é o "segundo mandamento" o amor aos nossos semelhantes. E, nesta base, é possível uma harmonia universal.
Quem é proclamado "bem aventurado" feliz? Quem é chamado "filho de Deus"? Quem é que "verá a Deus"? De quem é o "reino dos céus"?
Será de algum crente no dogma A, B ou C? Será o adepto da teologia desta ou daquela igreja ou seita? Será o partidário de um determinado credo eclesiástico? Nem vestígio disto!
Os homens bem aventurados, os cidadãos do reino dos céus, são os "pobres pelo espírito", são os "puros de coração", são os "mansos", os que "sofrem perseguição por causa da justiça", são os "pacificadores", são os "misericordiosos" e "os que choram", são os que "amam aos que os odeiam" e "fazem bem aos que lhes fazem mal".
No dia e na hora em que a cristandade resolver aposentar as suas teologias humanas e proclamar a divina sabedoria do Sermão da Montanha como credo único e universal, acabarão todas as dissensões, guerras de religião e excomunhões de hereges e dissidentes.
Isto, naturalmente, supõe que esse documento máximo de espiritualidade, seja experiencialmente vivido, e não apenas intelectualmente analisado.
A vivência espiritual é convergente e harmonizadora - a análise intelectual é divergente e desarmonizadora.
Se o Evangelho é o coração da Bíblia, o Sermão da Montanha é a alma do Evangelho.
Nesses últimos anos, o Ocidente foi inundado por um dilúvio de sistemas místicos e sociedades iniciáticas, cada uma das quais promete a seus adeptos a introdução no reino dos céus. As suas práticas são complicadas, os seus métodos, não raro, artificiais, as suas técnicas, se não desanimam os candidatos pela sua dificuldade, os levam ao orgulho de pretenso super-humanismo e ao desprezo dos "profanos".
Entretanto, os três capítulos, 5, 6 e 7, do Evangelho segundo São Mateus, nada têm de misterioso e exótico; são de uma simplicidade tão diáfana como o mais límpido cristal ferido pelos raios solares. A sua dificuldade jaz em outro setor: o Sermão da Montanha convida o homem a abdicar definitivamente do seu velho ego pecador, despojar-se do "homem velho" e revestir-se do "homem novo", da "nova criatura em Cristo, feita em verdade, justiça e santidade". Isso, é inegável, é um convite para o homem se deitar sobre a mesa de operação e sofrer uma intervenção cirúrgica, sem anestesia de espécie alguma, suportando todas as dores necessárias para que o novo homem crístico possa nascer sobre as ruínas do velho homem luciférico.
E é precisamente por causa dessa inevitável sangria que as sociedades iniciáticas procuram contornar essa dolorosa operação cirúrgica e consolam os seus adeptos com teorias e técnicas menos cruéis prometendo-lhes um "parto sem dores" e uma entrada no reino dos céus por alguma secreta portinhola dos fundos. Acham que, na Era Atômica e Cosmonáutica onde o homem viaja de avião a jato, e não mais em canoa ou carro de boi, também o ingresso no reino dos céus deva ser modernizado; essas praxes obsoletas do primeiro século do Cristianismo, como aparecem no Evangelho do Nazareno, acham eles, perderam a sua razão de ser. Vamos, pois, ingerir comodamente alguns comprimidos de "magia mental", a fim de entrarmos suavemente nesse reino da felicidade, e não mais pela "porta estreita e caminho apertado", como queria o profeta de Nazaré. Hoje em dia, se ele voltasse dizem eles, o Cristo não mais repetiria as palavras cruas do Sermão da Montanha, mas se adaptaria ao estado da nossa civilização e mostraria aos homens o modo de viajar ao céu de Pullman e em cabine de luxo...
"Condutores cegos conduzindo outros cegos..."
Nas seguintes passagens passaremos a analisar as principais palavras de Jesus proferidas no Sermão da Montanha. Mas é necessário que o leitor, depois de ler esta nossa orientação, feche o livro e abra de par em par os olhos da alma, a fim de intuir e viver espiritualmente aquilo que pessoa alguma lhe pode explicar intelectualmente. Quem julga ter compreendido o sentido real de alguma palavra de Jesus pelo simples fato de a ter ouvido numa conferência ou lido num livro, esse labora em funesta ilusão.
Para além de todo o "inteligir" está o "intuir", que é uma vivência íntima; está o "saber", que é um "saborear" direto e imediato. Em última análise, o homem só sabe aquilo que ele vive e o que ele é.
Para essa vivência íntima do espírito do Cristo necessitamos de um grande silêncio - silêncio material, mental e emocional; e, mais do que isto, de uma profunda contemplação interior.
Quem não vive, saboreia, sofre e goza a alma do Sermão da Montanha, não o compreende.
Mas quem o compreende deste modo pode prescindir de qualquer outro sistema de iniciação.
Aqui se trata, antes de tudo, de ser integralmente sincero e honesto consigo mesmo!
Diz a Bíblia, que Jesus proferiu esta mensagem, depois de ter passado a noite toda em oração com Deus. Durante essa noite de colóquio íntimo com o Pai dos céus, deve a alma de Jesus ter sido empolgada por uma veemente experiência da Divindade, porque em cada uma das palavras do Sermão da Montanha vibra ainda o eco duma grande voz e cintila uma luz tão fascinante que ninguém pode ler estas palavras sem sentir em si algo desse eco divino e vislumbrar algo dessa luz celeste...
Se, algum dia, a humanidade fizer as pazes religiosas e se harmonizar em Deus, "adorando o Pai em espírito e em verdade", então esse grande Tratado de Paz só poderá ser realizado na base do Sermão da Montanha.
Por outro lado, quanto mais cada indivíduo se identificar vivencialmente com esse espírito, tanto mais apto se tornará ele para servir de precursor e arauto do reino de Deus sobre a face da terra.
O brado "venha a nós o teu reino!" só poderá ter resposta na atmosfera dessa mensagem do Cristo, porque o "reino de Deus está dentro de nós", e estas palavras são o mais veemente clamor para o despertar da sua longa dormência e proclamar a "gloriosa liberdade dos filhos de Deus"...

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