sexta-feira, 15 de junho de 2012

BEM AVENTURADOS OS POBRES PELO ESPÍRITO!

BEM AVENTURADOS OS POBRES PELO ESPÍRITO!
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. (Mt. 6:19-21).
Jesus proclama bem aventurados, cidadãos do reino dos céus, agora e aqui mesmo, todos aqueles que são pobres, ou desapegados, dos bens terrenos, não pela força compulsória das circunstâncias externas e fortuitas, mas sim pela livre e espontânea escolha espiritual; os que, podendo possuir bens materiais, resolveram livremente despossuir-se deles, por amor aos bens espirituais, fiéis ao espírito do Cristo: "Não acumuleis para vós bens na terra -mas acumulai bens nos céus".
Essa libertação da escravidão material pela força espiritual supõe uma grande experiência e iluminação interna. Ninguém abandona algo que ele considera valioso sem que encontre algo mais valioso. Quem não encontrou o "tesouro oculto" e a "pérola preciosa" do reino dos céus não pode abandonar os pseudotesouros e as pérolas falsas dos bens da terra. É da íntima psicologia humana que cada um retenha aquilo que ele julga mais valioso.

O verdadeiro abandono, porém, não consiste em uma fuga ou deserção externa, mas sim em uma libertação interna. Pode o milionário possuir externamente os seus milhões, e estar internamente liberto deles - e pode, também, o mendigo não possuir bens materiais e, no entanto, viver escravizado pelo desejo de os possuir, e, neste caso, é ele escravo daquilo que não possui, assim como o milionário pode ser livre daquilo que possui. Este possui sem ser possuído - aquele é possuído pelo que não possui.
O que decide não é possuir ou não possuir externamente - o principal é saber possuir ou não possuir. Ser rico ou ser pobre são coisas que nos acontecem, de fora - mas a arte de saber ser rico ou de ser pobre, é algo que nós produzimos, de dentro. O que nos faz bons ou maus não é aquilo que nos acontece, mas sim o que nós mesmos fazemos e somos.
A verdadeira liberdade, ou seu contrário, consiste numa atitude do sujeito, e não em simples fatos dos objetos.
O que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração... mas, o que sai do homem, isso é o que o contamina. Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem. (Mt. 7:18-23)
Ser rico não é pecado - ser pobre não é virtude.
Virtude ou pecado é saber ou não saber ser rico ou pobre. 
E, pondo-se Jesus a caminho, correu um homem ao seu encontro e, ajoelhando-se, perguntou-lhe: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um, que é Deus. Sabes os mandamentos: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, não defraudarás ninguém, honra a teu pai e a tua mãe. Então, ele respondeu: Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude. E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; então, vem e segue-me. Ele, porém, contrariado com esta palavra, retirou-se triste, porque era dono de muitas propriedades. (Mc. 10:17-22)
Naturalmente, quem é incapaz de se libertar internamente do apego aos bens materiais sem os abandonar também externamente, esse deve ter a coragem e sinceridade consigo mesmo de se despossuir deles, também, no plano objetivo, a fim de conseguir a "pobreza pelo espírito", isto é, a libertação interior. Aquele jovem rico citado em Marcos 10:17-22, ao que parece, era incapaz de possuir sem ser possuído; por isso, o divino Mestre lhe recomendou que se despossuísse de tudo a fim de não ser possuído de nada - mas ele falhou. E por isto se retirou, triste e pesaroso, "porque era possuidor de muitos bens". Possuidor? Não - era possuído de muitos bens.
Entre possuidor e possuído há, verbalmente, apenas a diferença de uma letra, o "r" - mas esse "r" fez uma diferença enorme, porque é o "r" da redenção. O possuído é escravo - o possuidor não possuído é remido da escravidão. Quem não sabe possuir sem ser possuído, fez bem em se despossuir de tudo. Mas quem sabe possuir sem ser possuído pode possuir.
Não raro, o ato externo do despossuimento é condição preliminar necessária para a libertação interna.
Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. (Lc. 16:13)
Quem faz dos bens materiais um fim, em vez de um meio, pratica idolatria, porque "ninguém pode servir a dois senhores, a Deus e ao dinheiro". Quem serve é servo, escravo, inferior. Quem serve ao dinheiro proclama o dinheiro seu senhor e soberano, e a si mesmo servo e súdito. Mas quem obriga o dinheiro a servir-lhe é senhor do mesmo, porque usa o dinheiro como meio para algum fim superior.
Quem serve a Deus "em espírito e verdade" pode ser servido pelo dinheiro e por outros bens materiais.
Bem aventurados os pobres pelo espírito, os que, pela força do espírito, se emanciparam da escravidão da matéria. Deles é o reino dos céus, agora, aqui, e para sempre e por toda a parte, porque, sendo que o reino dos céus está dentro do homem, esse homem leva consigo o reino da sua felicidade aonde quer que vá...
O nosso pequeno ego humano é muito fraco, e necessita de ser escorado por muitos bens materiais, para se sentir um pouco mais forte e seguro - mas o nosso “Eu” divino é tão forte que pode dispensar essas escoras e muletas externas e sentir-se perfeitamente seguro pela força interna do espírito.
Todo o problema está em saber ultrapassar a fraqueza e insegurança do ego e entrar na força e segurança do “Eu”...
Bem aventurado esse pobre do ego - e esse rico do “Eu”!... Dele é o reino dos céus!...

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