sábado, 21 de abril de 2012

O DOM DE LÍNGUAS

O DOM DE LÍNGUAS
Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem.
Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua. Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus? Todos, atônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isto dizer?
Outros, porém, zombando, diziam: Estão embriagados! (Atos 2:4-13).

O que Deus nos concedeu naquele dia, ele nunca retirou de nós. O Espírito que transformou os discípulos e os galvanizou para a ação permanece dentro da igreja, foi a promessa de Jesus (João 14:16; compare Salmo 51:11). O batismo externo com água marca a entrada na pessoa, e torna-se sinal externo também da entrada do crente na dádiva do Espírito. Entretanto, resta ao crente o tornar-se "cheio do Espírito", visto que com freqüência "resistimos" contra o Espírito (compare At. 5:3, 9; 7:51; Ef. 4:30; I Ts. 4:8; 5:19; Hb. 10:29) e precisamos aprender a confiar no Espírito e a ele obedecer (compare At. 5:32; Jo. 7:39; Gl. 3:1-5, 14).
Logo se tornou do conhecimento público em geral que algo extraordinário havia acontecido. Se os discípulos haviam estado em seu próprio alojamento quando o Espírito foi derramado sobre eles, a esta altura teriam saído para a rua. É até possível que tenham ido ao templo, "andando e saltando e louvando a Deus". É natural, pois, que se reunisse uma multidão. Entre o povo estavam alguns judeus da Diáspora (isto é, vindo de todas as nações debaixo do céu, versículo 5) que fizeram de Jerusalém sua cidade - ou pelo menos parece que é isso que Lucas quer dizer. Sabemos que muitos judeus haviam regressado de outras paragens ou para estudar, ou simplesmente para passar seus últimos dias dentro das muralhas de Jerusalém. Seja como for, havia no meio da multidão algumas pessoas capazes de identificar em que línguas os discípulos estavam pronunciando palavras de louvor, dentre uma grande variedade de idiomas. Havia também alguns judeus palestinos que podiam assegurar aos demais que os que falavam assim eram todos galileus. A natureza condensada da narrativa de Lucas faz parecer que a multidão toda é que fazia essa observação, mas só podiam fazê-la aqueles dentre o povo que conheciam os discípulos, ou conse­guiam detectar-lhes o sotaque nortista (compare Mateus 26:73). O fato de estarem comentando esse fato talvez revele sua surpresa. Os da Judéia tendiam a desprezar os da Galiléia.
Enquanto isso, os discípulos relatavam em "línguas" as grandes coisas que Deus havia feito, enquanto os ouvintes se maravilhavam e estavam perplexos (At. 2:12). De modo especial a segunda destas expressões, em grego, exprime a total confusão do povo - as pessoas simplesmente não sabiam o que fazer diante daquele comportamento (compare Atos 5:24, 10:17), embora alguns emitissem a sugestão perversa de que os discípulos talvez estivessem bêbados (compare Efésios 5:18). Tudo isso nos parece tão real, um retrato da vida, e Lucas nos relata os fatos com extrema singeleza!
Todos... começaram a falar em outras línguas: Para os crentes a quem esse dom é concedido, as "línguas" são um meio de "comunicação entre o crente e Deus" e, de modo especial, um meio de louvar a Deus e de reagir emocionalmente face às maravilhosas obras de Deus. Foi o que aconteceu no Pentecoste quando, não a pregação (que talvez tenha sido em aramaico), mas o louvor anteci­pado é que foi expresso em "línguas". Ao mesmo tempo, as "línguas" têm um valor de evidência. O propósito do milagre [no Pentecoste]... não foi iluminar a obra do missionário cristão, mas chamar a atenção naquele início para o advento do Paracleto. Mais tarde, as "línguas" proveriam evidências de que o Espírito de Deus destinava-se a judeus e a gentios igualmente (At. 10:46; 11:15 e seguintes), e logo depois constituiria um sinal para os "discípulos" efésios de que o Espírito Santo de fato havia vindo.
Cada um os ouvia: Pode-se lançar alguma luz sobre o entendimento que Lucas tinha do Pentecoste pelo costume que data de pelo menos do segundo século d.C. de considerar-se este festival como comemo­ração da outorga da lei. Êxodo 20:18 diz que "o povo viu os trovões e os relâmpagos..." (como se fossem vozes, embora tais "vozes" fossem trovões); os rabis interpretavam esse texto como significando que todas as nações da terra ouviram a promulgação da lei. Se esta noção já fosse comum no primeiro século, é possível então que Lucas pretendesse que seus leitores entendessem a alusão. Neste Pentecoste, a "nova lei" - a proclamação da era messiânica e do próprio Messias - foi estendida às nações da mesma forma como o fora a lei; foi isso que "destruiu a parede de separação, a barreira de inimizade" (Ef. 2:14).
Partos, medos e elamitas... cretenses e árabes: Para muitos judeus, a distância não constituía barreira que impedisse o pagamento de meio "shekel", o imposto do templo pagável todos os anos, nem impediria que fossem pessoalmente ao templo para uma ou mais das grandes festas religiosas anuais.
Muitos judeus estavam dispersos por toda a parte conforme podemos observar em Ester 3:8, João 7:35. Quase era literalmente verdadeira a afirmação de que os judeus podiam ser encontrados em "todas as nações que estão debaixo do céu" (At. 2:5), de modo que embora a lista de Lucas fosse dada com a intenção de ser um catálogo das nacionalidades ali presentes, também poderia ser apenas representativa de muitas outras nações.
Falando-se de modo abrangente, essa lista transporta o leitor do leste para o oeste, havendo uma mudança na construção da frase grega a fim de marcar, talvez, a transição do império dos partos para o dos romanos. Assim, os partos são mencionados em primeiro lugar, estando na extre­midade leste, numa região a sudeste do mar Cáspio; a seguir, medos, numa região a oeste do mar Cáspio e ao sul das montanhas Zagros, e depois elamitas, o antigo nome dos habitantes da planície do Casaquistão, banhada pelo rio Querque, que se une ao Tigre bem ao norte do golfo Pérsico. Mesopotâmia, o primeiro nome na sentença de construção mudada, era termo genérico usado para descrever todo o vale do Tigre/Eufrates, onde se encontravam as esferas de influência dos dois impérios. Estas foram as terras para as quais os israelitas e depois os judeus haviam sido deportados, nos séculos oito e seis a.C, e onde muitos deles preferiram permanecer. Foi a área mais antiga e mais densamente povoada da diáspora.
A inclusão da Judéia como a região seguinte, na lista, é motivo de espanto para muitos. Tanto assim que várias alternativas de interpretação têm sido propostas. Muitos eruditos, acreditam que "é provável que devamos pensar na palavra Judéia no sentido mais amplo possível, denotando a grande extensão de terras controladas direta e indiretamente pelos reis judeus Davi e Salomão, da fronteira egípcia ao Eufrates". Esta sugestão tem o atrativo de incluir aqueles países do leste do Mediterrâneo que, de outro modo, não estariam representados. Todavia, não devemos exagerar a dificuldade na interpretação de Judéia em seu sentido comum. Fazia-se distinção entre Jerusalém e o resto da província (veja At. 1:8), sendo que para os compiladores originais poderia não ter parecido incongruente, como para nós parece, a inclusão dos judeus das vizinhanças entre os visitantes.
A seguir, Lucas faz menção dos visitantes da Ásia Menor - Ponto, no nordeste; Capadócia, ao sul do Ponto; Frígia, a oeste da Capadócia, desta separada pela Licaônia (a província romana da Galácia, agora estendendo-se nessas terras; e Panfília, na costa sul entre a Cilícia e Lícia. Ásia significa aqui, como por todo o livro de Atos (6:9; 16:6; 19:1, 10, 22, 26, 27; 20:4, 16, 18; 21:27; 24:18; 27:2), a província romana que tinha esse nome. Compreendia a costa ocidental da Ásia Menor, inclusive as regiões de Mísia, Lídia e Caria, e muitas das ilhas ao longo da costa litorânea. No terceiro século a.C. havia judeus nessas terras. Um século mais tarde esse número havia aumentado (por adição, ou seja, por migrações voluntárias) mediante o remanejamento de duas mil famílias judaicas da Mesopotâmia, na Lídia e na Frígia. Os capítulos do meio de Atos (13-19) constituem em si mesmos uma testemunha da presença contínua e da importância dos judeus na Ásia Menor.
A estes judeus seguem-se na lista os do Egito. (veja por exemplo, Jeremias 44:1). Partindo do Egito, penetraram na Líbia, pelo oeste, sendo "Líbia" um termo amplo designativo do norte da África ao oeste do Egito); tais judeus são representados neste catálogo de Lucas por aqueles que provieram das "partes da Líbia perto de Cirene", isto é, do distrito conhe­cido como Cirenaica, a leste de Sirte Maior (golfo de Sidra; das quais Cirene era a principal cidade.
Da extremidade ocidental vieram os judeus romanos (compare At. 1:8). Não sabemos quanto tempo os judeus haviam estado em Roma, mas são mencionados em uma ordem de expulsão datada de 130 a.C. Sem dúvida voltaram para lá acompanhados de outros judeus. Os judeus romanos são mencionados na lista de Lucas ao lado de outros romanos que se haviam convertido à fé judaica. Não é provável que estes fossem os únicos gentios convertidos em Jerusalém à época do Pentecoste, mas o propósito de Lucas teria sido chamar a atenção de modo especial para a presença deles na fundação da igreja.
Finalmente, dando a impressão de que se trata de um pensamento tardio, Lucas se lembra de assinalar a presença também de judeus cretenses e árabes. Para a mente greco romana, a Arábia não significava toda a península árabe, mas apenas aquela parte a leste e ao sul da Palestina, onde ficava o reino da Nabatéia. A menção deles no fim da lista pode significar que não estavam presentes em Jerusalém em grandes números, mas só foram lembrados quando a lista já se encer­rara e estava sendo conferida. Por outro lado, a menção especial desses judeus cretenses está extraordinariamente de acordo com uma declaração de Filo, segundo a qual as ilhas mais importantes do Mediterrâneo - e ele cita de modo especial Creta - estavam "cheias de judeus".
Estão cheios de vinho: A palavra vinho (oinos) tanto pode significar "vinho novo" como "vinho doce". Se o primeiro sentido for aceito, surge a dificuldade segundo a qual na época do Pentecoste não havia vinho novo (falando-se estritamente), porque a primeira colheita de uvas para o vinho ocorreria em agosto. É melhor, então, aceitar o sentido de "vinho doce". Os antigos tinham meios de guardar o vinho doce durante o ano todo.
Fontes de Pesquisas:

(L. L. Morris, Spirit ofthe Living God [Londres: Inter-Var-sity, 1960], pp. 54s.)
(K. Stendahl, Paul Among Jews andGenüles [Londres: S.C.M. Press, 1977], p. 113)
(H. B. Swete, The Holy Spirit in the New Testament [Londres: Macmillan, 1909], p. 74)

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